tag:blogger.com,1999:blog-2797820975200522682024-03-19T01:20:33.862-03:00CalouUm pequeno deboche de não-sei-que-desavisado.
Sobre os próprios confetes: um catavento caleidoscopado.
Um estalo mudo, uma frase de não-sentido: entreposto de apostos que nunca findam.Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.comBlogger84125tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-9357696120851410622015-11-19T23:39:00.000-03:002015-11-19T23:39:06.090-03:00De que livro tu tiraste esta verdade?<div style="text-align: justify;">
Outra vez conversaram meus olhos e teus óculos. Digo os óculos, pois nós sabemos que eles estão de tal modo pegados ao teu rosto que seria uma estranheza falar de forma diferente. Andei mesmo pela rua do medo, fiz adendos na madrugada. Havia na calçada um galpão de estacionamento, dentro dele a minha voz acendia e eu sorria, investindo no ato de nada reconsiderar. Um não bem dito (bendito!) contra o corpo de um amigo é remédio contra o vulgar. (Ei moço, me arruma uns fósforos? Deram-me uma caixa inteira)... Duas eu acho. Três da Gal. Quatro dos galos. Cinco dos sinos. Seis dos pães já prontos da padaria. Sete do sol medonho, melindrado. Oito do sim-é-dia, e só depois é que a noite desenssimesmará. Então, tu me dizes, delicada perversidade, saltinhos cor de poeira e manso coração-mirrado: "é desespero isso de andar pela cidade". Sou obrigada a te cumprimentar. "Há um excesso de verdade no mundo" - disse Raduan para uma galinha que ciscava, descompromissada, a terra do sitio - El Dourado de quem cansou dos ornamentos do circo. Depois ele desistiu, digo o Raduan. Assim, peço: não me ofertes o teu excesso de verdade, me deixa apenas a falta dela, essa mãe-d'água que nunca promete graça, milagre ou proteção. Não ouses furtar as minhas dores, foi muito difícil encontrá-las no Mercado Livre. Mas por que as cegonhas não são igualmente responsáveis pelo recolhimento dos bebês mortos? Tu, pela primeira vez em tua vida, tocas de leve as linhas da minha vida na palma honesta da minha mão, entrega-me um livro vermelho/branco: "Poesia da Recusa". Eu sei o que significa o livro, gente morta pra eu pôr no teu lugar</div>
Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-10087620944031644532015-06-28T18:06:00.001-03:002015-06-28T18:06:22.658-03:00<ul aria-atomic="false" aria-live="polite" aria-relevant="additions" class="uiList _2ne _4kg" id="webMessengerRecentMessages" style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 16.0799999237061px; list-style-type: none; margin: 0px; padding: 0px;">
<li class="webMessengerMessageGroup clearfix" id="wm:mid.1434413614294:95edad6fd5ce115653" style="border-width: 1px 0px 0px; padding: 8px 20px 7px; position: relative; zoom: 1;"><div style="margin-top: 10px; white-space: pre-wrap;">
Ao Jack</div>
</li>
<li class="webMessengerMessageGroup clearfix" id="wm:mid.1434413614294:95edad6fd5ce115653" style="border-width: 1px 0px 0px; padding: 8px 20px 7px; position: relative; zoom: 1;"><div style="margin-top: 10px; white-space: pre-wrap;">
<span style="font-size: 13px; line-height: 1.38;">Quero, coração, esquecer-te como os vivos se esquecem dos mortos; como o eterno se esquece do fim. Quero esquecer-te como o poeta que desiste de sua lavra para olhar um pouco mais a ferida, antes de prendê-la numa sílaba; a vida, antes de salvá-la numa palavra. Quero, coração, esquecer-te como o poeta que faz um verso torto e, para não morrer de desgosto, deixa irromper seu desagrado. Quero, coração, amassar com as duas mãos o teu composto: este rascunho equivocado! Este brinquedo de fazer troça!... Eu quero, coração, embora tu bem saibas que eu não possa...</span></div>
</li>
<li class="webMessengerMessageGroup clearfix" id="wm:mid.1434413614294:95edad6fd5ce115653" style="border-width: 1px 0px 0px; padding: 8px 20px 7px; position: relative; zoom: 1;"><div class="clearfix" style="zoom: 1;">
<div class="clearfix _42ef" style="overflow: hidden; zoom: 1;">
<div class="_37">
<div class="_53">
<div class="_3hi clearfix" style="zoom: 1;">
<div class="_1yr" style="float: right; margin-left: 4px;">
<span class="_2oy" style="float: right;"></span></div>
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</li>
<li class="webMessengerMessageGroup clearfix" id="wm:mid.1434413622165:0c64a0ec29759e0c53" style="border-width: 1px 0px 0px; padding: 8px 20px 7px; position: relative; zoom: 1;"><div class="clearfix" style="zoom: 1;">
<br /></div>
</li>
</ul>
Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-31056461172248775282015-05-09T12:44:00.002-03:002015-05-09T12:45:37.436-03:00<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLIJLMhZXyx72gwHThTi8KkXB0cKJm_emy2Mth_A1IfaRLVrU5s2JT50PqT0eL5q-YygSpwJrbZe2WRRPZq-X4O06Xh1ZG-6q2GrFNXGRQVoSdsXddzJVUqyODrCgUU5zsBL9n1MJ9JLM/s1600/pinturetriste.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLIJLMhZXyx72gwHThTi8KkXB0cKJm_emy2Mth_A1IfaRLVrU5s2JT50PqT0eL5q-YygSpwJrbZe2WRRPZq-X4O06Xh1ZG-6q2GrFNXGRQVoSdsXddzJVUqyODrCgUU5zsBL9n1MJ9JLM/s640/pinturetriste.jpg" width="640" /></a></div>
<div>
<br /></div>
Se acaso entrar a tristeza na fresta de tua porta: não te assusta, te comporta! Serve-lhe chá, não faças troça... Deixa descansar: é velha e há um sofá. Mira-lhe o cinza dos olhos e o verde-musgo das roupas; não a sirvas de maneira fria, pousa sobre a melhor louça as escondidas ambrosias... Sendo o caso, prepara-lhe um lava-pés com tuas lágrimas; <br />
faz-lhe massagem com mãos de mágoas; oferece-lhe sem pavor o catálogo de tua dor, acrescido de um copo d'água. Prescruta-lhe bem os motivos, até que o ridículo da vida cave em ambos um riso... que como apito de trem, fim da visita anuncia - amém!Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-61130074809438678832015-02-21T20:56:00.003-03:002015-02-21T20:59:43.901-03:00Construção da Alegoria - do amigo Nagib Jorge Neto<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmGmG-S0aHIhSYqwe2KPd_dObTSZdMSKb-XET1q7W8K6HEFgRiK5OoO4BubwjOhjKwsOGSKccq8Vq41iHNk06byvxDjA_NaICI9L7_r_ldmoBSdi0pfFQGhMgErnvpiPJ3pxDm-xOEzD8/s1600/Artigo_no_JC_-_Constru%C3%A7%C3%A3o_da_Alegoria.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-size: large;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmGmG-S0aHIhSYqwe2KPd_dObTSZdMSKb-XET1q7W8K6HEFgRiK5OoO4BubwjOhjKwsOGSKccq8Vq41iHNk06byvxDjA_NaICI9L7_r_ldmoBSdi0pfFQGhMgErnvpiPJ3pxDm-xOEzD8/s1600/Artigo_no_JC_-_Constru%C3%A7%C3%A3o_da_Alegoria.jpg" height="400" width="335" /></span></a></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
(Publicado no Jornal do Commercio, de Pernambuco em 20/02/2015)</div>
Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-65718005792343403742015-01-18T20:19:00.002-03:002015-01-18T20:31:36.094-03:00Amoximoro II: o belo terrível<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB0Krr5oDLcwQG3A8cI2atMk1EdIcUQl7GBmjuJhSaFoy94TDj5voyTSvsCqiX0gvQQYt4IVChyphenhyphenfCTXUyFxVjlFK7ECpUzryZH9iJXHu5YMdvZ4EUioAYDdBglQaTz-lMgRbTXpc9P4RA/s1600/IMG-20150118-WA0003.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB0Krr5oDLcwQG3A8cI2atMk1EdIcUQl7GBmjuJhSaFoy94TDj5voyTSvsCqiX0gvQQYt4IVChyphenhyphenfCTXUyFxVjlFK7ECpUzryZH9iJXHu5YMdvZ4EUioAYDdBglQaTz-lMgRbTXpc9P4RA/s1600/IMG-20150118-WA0003.jpeg" height="400" width="307" /></a></div>
<br />
<br />
Em matéria de amor<br />
<div>
eu, doutor em <i>chagrisse </i></div>
<div>
Pedrinho de petitices </div>
<div>
misto de lobo e pastor<br />
Se o assunto é amor </div>
<div>
não me peças conselho </div>
<div>
sobrolhos em pesadelo </div>
<div>
mais fácil falar shikomor!<br />
Vindo o amor na calçada </div>
<div>
atravessa, desce a escada </div>
<div>
salta-te logo debaixo d'água </div>
<div>
Sê avarento de sentimento </div>
<div>
poupando teu coração desta </div>
<div>
inútil sedição de tormento</div>
Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-4879322463794855182014-11-06T21:52:00.002-03:002014-11-09T23:39:42.640-03:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiukAnYFtkTCQzYgsJnysMIvqZP9TuOum1dbIWKxbbYi1fLVvVS9szE9Na7iRaD_NmO_MsU0JSU0VOrWBZvoef7ZkjHuoz08Fs05Pk7d4zH9KeMkFlSp0jWX3Bs4fiZKMI4a6lT5wUQ164/s1600/IMG-20141101-WA0038.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiukAnYFtkTCQzYgsJnysMIvqZP9TuOum1dbIWKxbbYi1fLVvVS9szE9Na7iRaD_NmO_MsU0JSU0VOrWBZvoef7ZkjHuoz08Fs05Pk7d4zH9KeMkFlSp0jWX3Bs4fiZKMI4a6lT5wUQ164/s1600/IMG-20141101-WA0038.jpeg" height="640" width="425" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">(Acrílico s/t)</span></div>
<br />
<br />
<br />
os olhos azuis da bondade<br />
os verdes da traição<br />
negros: sinceridade<br />
castanhos: devassidão<br />
se puxados ou não<br />
puxam para si os meus próprios<br />
ímã, rosário, ópio<br />
<br />
sejam grandes, pequenos<br />
firmes, desatentos<br />
intrigantes ou amenos<br />
olhos, é preciso olhar nos olhos<br />
cerrados como se japoneses<br />
saltados como se denunciados<br />
de sobrolhos adornados<br />
ou até mesmo: vazados<br />
- branca retina tornada bruta...<br />
<br />
olhos, é preciso despi-los<br />
saber de sua luta<br />
botão a botão<br />
como se flores cuja surpresa<br />
fosse o inseto pousando na mesa<br />
ou o perfume que aquieta o coração<br />
olhos: um pouco de coisa-em-si<br />
mas sem poderes de camaleão<br />
<br />
sejam cheiro de casa limpa<br />
ou odor deletério de cripta<br />
é preciso cheirar os olhos <br />
- (com os olhos)<br />
<br />
sejam unhas riscando a losa<br />
ou os mimos de uma voz rouca<br />
é preciso ouvir os olhos <br />
- (com os olhos)<br />
<br />
sejam banquete em Fontaineblue<br />
ou magra avoante na brasa, assum<br />
é preciso saber o gosto dos olhos <br />
- (com as pupilas gustativas)<br />
<br />
sejam a pele das macieiras<br />
ou os espinhos das carnaubeiras<br />
é preciso tocar os olhos<br />
- (com os olhos)<br />
<br />
sejam calmos tal Monalisa<br />
ou assustados como em Guernica<br />
é preciso olhar os olhos<br />
- (com olhos abertos e sãos)<br />
<br />
os olhos que passam<br />
e nos olham por baixo<br />
os olhos que Não.Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-73339520581824590482014-11-06T00:54:00.000-03:002014-11-06T00:59:23.563-03:00<div style="text-align: justify;">
Um dia, voltarás pela Rua do Cruzeiro acompanhada de tua sombra somente que, imóvel e calada, olhará como se a te julgar. Dos despojos dos despejos: a solidão dos teus passos — apenas a pouca velocidade seguindo a acompanhar. Uma senhora em sua porta talvez pergunte: vens de longe? Não tens medo de andar a essa hora? Teu sorriso responderá que é preciso voltar, não importa se longe e tarde ou se o mundo bichado de salteadores. - O mundo anda mesmo bichado de salteadores, mas eu cuido de guardar a minha alma sempre que ando pelo lado de cá. Um dia voltarás pela Rua do Cruzeiro, de finados um domingo, quem sabe. Então pensarás que também tu não receberás flores ou reza ou lembrança fast-food a estrito descarrego de consciência... Pensarás que, como os mortos cujos vivos que deles lembrariam já também mortos, esperarás nervosa pela visita de novembro, que não vai chegar. Um dia será a Rua do Cruzeiro a te atravessar. E tu, morada do nada, nem mesmo saberás.</div>
Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-62882624356014409882014-05-31T00:11:00.001-03:002014-12-11T00:14:48.510-03:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
Mas o que pode, então, o Tempo? </div>
<div>
Revirar, ao avesso, um tormento? </div>
<div>
Ser antídoto para dor de ferroada? </div>
<div>
Príncipe, o da maçã envenenada? </div>
<div>
Sumo pilar do eterno movimento </div>
<div>
sonda desertos no torso do vento </div>
<div>
Plantando heras infelizes, aziagas</div>
<div>
parindo feras, loucas e pressagas </div>
<div>
Ora é aliança, ora foice espada </div>
<div>
nele coincidem porto, mar e jangada </div>
<div>
Volátil e indômito por temperamento </div>
<div>
fome da fome, raiz do formigamento </div>
<div>
Fosca claraboia jamais fechada </div>
<div>
redemoinho, o frio golpe do nada</div>
Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-40205023287930379222013-11-07T22:07:00.001-03:002013-11-07T22:07:22.537-03:00Quando os sinos dobram enganos<br />e as auréolas caem machadas<br />visito as sombras de nossos anos<br />retorno ao baile: às mascaradas<br /><br />Há tintas tantas cobrindo as caras<br />panos vermelhos por sobre as falhas<br />há fantasias corando as almas<br />flores de indústria na vez de dálias<br /><br />Dedos cruzados fingem ser figas<br />mas eis: a quase-noite tudo aclara<br />morrem as cópias, nascem intrigas: <br />uma mulher de perna curta nos encaraÂngela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-32002844744410621022013-11-03T14:52:00.001-03:002013-11-03T14:55:45.158-03:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIFX-aNOrSIwvVXQUk35Zbylz-HVpbMVO50lV6vqhOknhcm_p3TLTjcRduwQg73n2L7qEmAhRK5QNlZv2o60AwE7BZySNCIdAEI4VIwYlTRdBCm08aCku9F9mrQ7yUEjxSNkpS4Vt5nSs/s1600/avalovara.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIFX-aNOrSIwvVXQUk35Zbylz-HVpbMVO50lV6vqhOknhcm_p3TLTjcRduwQg73n2L7qEmAhRK5QNlZv2o60AwE7BZySNCIdAEI4VIwYlTRdBCm08aCku9F9mrQ7yUEjxSNkpS4Vt5nSs/s320/avalovara.jpg" width="221" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIFX-aNOrSIwvVXQUk35Zbylz-HVpbMVO50lV6vqhOknhcm_p3TLTjcRduwQg73n2L7qEmAhRK5QNlZv2o60AwE7BZySNCIdAEI4VIwYlTRdBCm08aCku9F9mrQ7yUEjxSNkpS4Vt5nSs/s1600/avalovara.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a><br />
<div>
Tudo não passa de mera repetição</div>
Montanhas e pássaros<br />
Minoutauros e astros<br />
Demônios, labirintos<br />
A salvação e os ornitorrincos<br />
<br />
Tudo não passa de devir restaurado<br />
Dos olhos da amada<br />
Ao sol na calçada<br />
Do terno rompante<br />
Às mentiras do amante<br />
<br />
Tudo é apenas pleonasmo ambulante<br />
Os versos de meus poemas<br />
A língua até nos fonemas<br />
Sobre ou abaixo do sol<br />
O mesmo a lançar seu anzol...Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-45239782099846242112013-11-02T12:40:00.000-03:002013-11-02T12:43:35.031-03:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs9q7L9VjLd3tQBuoT6PPrbDXNUzdraQkRSVM_pMzabR-Qywy3GOplVTFGt7wL6gMun9VWoWA-s4VMDnE2OTnjFLYpxQZIvce0Doh7P3nvuLtKPM3w5HVcxgvXwzJnvGWN1SCXFE26jDo/s1600/22092013-_MG_1702.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="230" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs9q7L9VjLd3tQBuoT6PPrbDXNUzdraQkRSVM_pMzabR-Qywy3GOplVTFGt7wL6gMun9VWoWA-s4VMDnE2OTnjFLYpxQZIvce0Doh7P3nvuLtKPM3w5HVcxgvXwzJnvGWN1SCXFE26jDo/s400/22092013-_MG_1702.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Como é bom não ser mais tua</div>
<div style="text-align: left;">
E no espaço polissêmico da distância</div>
<div style="text-align: left;">
Acatar que sou de novo uma criança</div>
<div style="text-align: left;">
Livre, tal prisioneiro lançado à rua</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Como é leve a natureza do não-ter</div>
<div style="text-align: left;">
Num tempo que se desata dos pesadelos</div>
<div style="text-align: left;">
Volto a ser imagem dentro de espelhos</div>
<div style="text-align: left;">
Elevo-me sobre as ruínas para melhor ver</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
Como é belo que o fim viceje o começo</div>
<div style="text-align: left;">
Não o corte me trouxe o cadafalso</div>
<div style="text-align: left;">
Mas o expurgo de inútil carrapato</div>
<div style="text-align: left;">
Banido de meu avesso, morto qualquer apreço...</div>
Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-86258792727228593402013-10-26T13:44:00.002-03:002013-10-26T13:45:18.977-03:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioyB7Qze-2z2X6YDRSqtVNRiGeii8qIgcSkjI5mDbIrYq0_hXm2PsQfTxm3OVR-6i5UUutleuE4dzni8nVYSicBSdmDfVXLt5JVdx-GFhsbYUzb8sh7VewmrAMPuaRubo2e30ZewqJTyM/s1600/b_380_0_16777215_00_images_amy-winehouse-before-drugs.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioyB7Qze-2z2X6YDRSqtVNRiGeii8qIgcSkjI5mDbIrYq0_hXm2PsQfTxm3OVR-6i5UUutleuE4dzni8nVYSicBSdmDfVXLt5JVdx-GFhsbYUzb8sh7VewmrAMPuaRubo2e30ZewqJTyM/s320/b_380_0_16777215_00_images_amy-winehouse-before-drugs.jpg" width="229" /></a></div>
<br />Porque o céu já não é mapa<br />Ou as estrelas rosa dos ventos<br />Dirijo-me à força de vontade fraca<br />À sombra de quereres lentos<br /><br />Porque o outro, desfeito o porto,<br />É o perigo em forma de dentes<br />Tal cão cansado, finjo de morto<br />Escapo à fera dentro das gentes<br /><br />Porque o tempo bole no sangue<br />E o silêncio arde no ouvido<br />Procuro, qual cartaz de bangbang,<br />Vivo ou morto: algum sentido...Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-74991875892405935342013-10-17T22:45:00.004-03:002013-10-17T22:48:49.456-03:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzsTXiQfKRd74dLgonNqLM-q2FKzFMGw33zp2CgkufUrA6EOe5hYXaLhThBAm6LygN1pAhPxCDMEmEYKHNsuVdwQyUOvmLOfbqCicqtHkIF43xNjaPZLaQUQUEB1ySSy9qEPlFKn7bWGI/s1600/1174669_373801869411977_599652497_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzsTXiQfKRd74dLgonNqLM-q2FKzFMGw33zp2CgkufUrA6EOe5hYXaLhThBAm6LygN1pAhPxCDMEmEYKHNsuVdwQyUOvmLOfbqCicqtHkIF43xNjaPZLaQUQUEB1ySSy9qEPlFKn7bWGI/s400/1174669_373801869411977_599652497_n.jpg" width="225" /></a></div>
<br /><br />Será que tudo não se cansa?<br />Os pássaros e os pedregulhos<br />As árvores e as crianças?<br />O sol, de ensolarar<br />A lua, de nos encimar?<br /><br />Será que tudo nunca se farta?<br />Cardumes, bancos de praça<br />Os velocímetros e as moças castas?<br />O dia, de sempre fugir<br />A noite, de nos redimir?<br /><br />Será que tudo jamais desanima?<br />Poetas, de encontrar rimas<br />Os loucos, de suas sinas?<br />O tempo, em sua missão de amortecer<br />A vida, na intenção de elastecer?Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-28854335752207922102013-10-01T22:41:00.000-03:002013-10-01T22:45:24.119-03:00<br />
<span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px;"></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6QBm6-aQTlMI0E8M5wi5JT6ip32SSHz5QZxjggjbESjeMuLnIqu4z-eoZn340TmDSLETD99UOt3VN5A5M5gBnxOH3QHGBeSd6GI0035FnKyPY-p1Zipi5uldDwCcNoaxyI_ucL6PEC3c/s1600/2013-08-10_14-44-06_734.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6QBm6-aQTlMI0E8M5wi5JT6ip32SSHz5QZxjggjbESjeMuLnIqu4z-eoZn340TmDSLETD99UOt3VN5A5M5gBnxOH3QHGBeSd6GI0035FnKyPY-p1Zipi5uldDwCcNoaxyI_ucL6PEC3c/s640/2013-08-10_14-44-06_734.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="text-align: start;">O dia é assim tão pouco</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="text-align: start;">Pr'acatar todo desgosto</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="text-align: start;">Abonar o amor deposto</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="text-align: start;">E repensar outro desvão</span></div>
<div style="text-align: center;">
<br style="text-align: start;" /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="text-align: start;">O dia é assim tão mínimo</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="text-align: start;">Pra esquecer um rosto cínico</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="text-align: start;">Enredar sonhos menínicos</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="text-align: start;">E debulhar nova canção</span></div>
<span class="text_exposed_show" style="display: inline; text-align: start;"></span><br />
<div style="text-align: center;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline; text-align: start;">O dia é assim tão raro</span></div>
<span class="text_exposed_show" style="display: inline; text-align: start;">
</span>
<div style="text-align: center;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline; text-align: start;">Pra pensar nalgum amparo</span></div>
<span class="text_exposed_show" style="display: inline; text-align: start;">
<div style="text-align: center;">
Acertar rusga ou reparo</div>
<div style="text-align: center;">
E educar cada ilusão...</div>
</span>Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-7944387742708387192012-09-26T12:35:00.000-03:002012-09-26T12:35:35.678-03:00<br />
<div class="MsoNormalCxSpFirst">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4sqn0jF8pcxXrNwfMDj5JiAqhGteRNSJTXJhdkJrBvF7nybIIEr8GNvtNeEmzhHMWXdBDc5r55o-C5p4n2OcRDX8YBBgwePPiDHGyJ0YC6hKp2QwfNWhNHARzEzZZ5in7PONBxNX-4jw/s1600/Kandinski_1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4sqn0jF8pcxXrNwfMDj5JiAqhGteRNSJTXJhdkJrBvF7nybIIEr8GNvtNeEmzhHMWXdBDc5r55o-C5p4n2OcRDX8YBBgwePPiDHGyJ0YC6hKp2QwfNWhNHARzEzZZ5in7PONBxNX-4jw/s320/Kandinski_1.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">"Composição VIII" (1923), Wassily Kandinsky (1866-1944)</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A forma geométrica do amor é o círculo. Há um ponto e um raio dentro desse círculo, e linha que pode ser traçada do centro até a volta redonda da figura, maciez espacial. Amar é como ser dentro disso: o ponto no centro do círculo assinala que somos ainda, essencialmente, uma crua solidão. A linha indo do ponto até as bordas, diz que a solidão pode ser alcançada, aferida, tocada e, portanto, desfeita enquanto universal em um abraço terno, particular.</div>
Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-59914461556744549212012-04-13T00:32:00.001-03:002012-04-13T12:09:39.708-03:00Escrita sem medo - por Henrique Marques-Samyn<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVezsgktEgWKyet0CqugfI3jCTKqNzBVVVscQoYNepreZWVuQnIhJb-ZVcx3S3RNk9NzZKQhZUgAP3ED1EZiCw0wqlmZcFxTQnX46xoic_rlP9aDAr3iW_U-YiGuHC0vwlZwhoKa3CIvo/s1600/G%C3%B3rki.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVezsgktEgWKyet0CqugfI3jCTKqNzBVVVscQoYNepreZWVuQnIhJb-ZVcx3S3RNk9NzZKQhZUgAP3ED1EZiCw0wqlmZcFxTQnX46xoic_rlP9aDAr3iW_U-YiGuHC0vwlZwhoKa3CIvo/s400/G%C3%B3rki.JPG" width="283" /></a></span></div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
</span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="font-size: x-small;">Górki por Nelson Mielnik</span></span></div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ângela Calou é uma jovem escritora cearense; <b>Eu tenho medo de Górki & outros contos</b> é seu livro de estreia. A obra reúne pouco mais de duas dezenas de narrativas, que variam na extensão e na temática. Alguns dos contos são melhor acabados; outros mais se assemelham a exercícios ficcionais − o que não é um demérito. Ângela experimenta, arrisca-se, explora a linguagem com notável desenvoltura. No prefácio à obra, Tércia Montenegro, ela mesma contista, assegura: “Ângela Calou já encontrou seu estilo, neste livro de estreia”. Embora a afirmação me pareça algo temerária, sendo a autora ainda jovem, é fato que está muito próxima disso. Sua escrita tem ritmo, variação léxica e vigor estético. Ângela, sem dúvida, já nasce contista − não aspirante, como os tantos escritores que mais tarde renegam suas primeiras páginas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Todavia, o que me parece mais importante é o fato de <b>Eu tenho medo de Górki & outros contos</b> denotar uma evidente independência. Ângela não faz concessão a modismos, afetações desnecessárias ou forçosos artifícios; pelo contrário: sua escrita é despojada − sobretudo, isenta de certo vício intelectualista comum nos jovens contistas de hoje. Não que não haja, em seus contos, referências culturais: já o título do livro evoca um dos mais importantes autores oitocentistas; Ângela cita Cézanne, Beethoven, Walter Benjamin em epígrafe. Essas citações, entretanto, respeitam a economia narrativa, não soando gratuitas ou pedantes. Para além disso, se os contos eventualmente resultam algo herméticos, isso parece menos atribuível à intenção estética do que à busca temática à qual Ângela corajosamente se lança − e que é, a meu ver, o ponto em que mais nitidamente se percebe o teor inaugural do livro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</span><br />
<div style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; text-align: justify;">
<b>Eu tenho medo de Górki & outros contos</b> é uma obra auspiciosa − a abertura de um horizonte literário em que ainda há muito a ser construído. Ângela, contista de talento, arrisca investidas, tateia motivos, acerca-se de universos temáticos ainda não de todo definidos. Por vezes, parecem eclodir alguns temas recorrentes, possíveis indícios destas ideias fixas que obcecam os escritores: as perdas, as despedidas, os abandonos. Contudo, quem sabe por uma propensão filosófica, ela ocasionalmente conduz a narrativa para instâncias abstratas, quando poderia insuflar nas palavras a matéria vivida (o que, desnecessário dizer, nada tem a ver com a exploração de referências regionais: Lewis Carroll, de quem Ângela toma Alice por empréstimo, não se referiu concretamente a mundos imaginários?). Se, de fato, será esse o melhor caminho, apenas a escritora poderá decidir. Ângela Calou já abriu as portas de seu universo literário; cabe-lhe, agora, o desafio de − sem medo − sondar seus recantos.</div>
<div style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; text-align: left;">
(Publicado originalmente em <a href="http://clavecritica.wordpress.com/2012/04/09/escrita-sem-medo/">http://clavecritica.wordpress.com/2012/04/09/escrita-sem-medo/</a>, 09/04/2012)</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-34082800844436821892012-03-21T23:07:00.000-03:002012-03-22T20:35:41.886-03:00O Górki de Ângela - por Batista de Lima<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuoVdAW-1UgQtASq7cSLHxWKhc3fnXYqybE6A_H7T8nAciEwPAt5TueOWhuMEWYiK0e2UautsQ5uiiaV111xuOWUcbbnDmkx3zq3VJSZhgBsgfF8Gck-U_q4as7UpXmd3O3tRN5k472m8/s1600/100_3138.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuoVdAW-1UgQtASq7cSLHxWKhc3fnXYqybE6A_H7T8nAciEwPAt5TueOWhuMEWYiK0e2UautsQ5uiiaV111xuOWUcbbnDmkx3zq3VJSZhgBsgfF8Gck-U_q4as7UpXmd3O3tRN5k472m8/s320/100_3138.JPG" width="211" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Tépido e gorduroso é o texto de Ângela Calou. Calorento, fogo de monturo, borralho. Sebosa sua metáfora. Suja de eras, balseiro de signos, coivara de suposições. Ler essa moça é um desossamento. É preciso extirpar musculaturas, atolar-se. Não se consegue tomar pé nas suas dimensões. Falta fôlego para tanta fundura. Lodaçal de possibilidades. É uma senhora madura, nascida em 1988, mas que já existia muito antes dos aluviões. E é de Juazeiro do Norte. Infeliz de quem ler "Eu tenho medo de Górki". Mais infeliz de quem não ler.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Há um buraco que ela constrói de dentro para fora. Uma explosão que intumesce as coisas, como um estômago que se instaura onde a gente pensa que nada há. Ângela garimpa as coisas nas palavras e as palavras nas coisas. Suas escavações desestabilizam os códigos e criam pulsações onde vidas se refugiam. Perversa, seu corte é feito com gume cego. Doloroso corte que vitima o leitor invasor dos seus domínios. Seu texto esburacado só permite leituras trepidantes. Não é apenas poesia em prosa, mas também uma troca de sopapos com Clarice que ousou partir mais cedo. É um texto cheio de calos, novelos invisíveis, palavras blindadas em perscrutação. Ela prospecta em desertos para encontrar oásis.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">A certa altura da jornada, ela chama os mortos para o jantar no dia do avesso de Joana, uma das suas enigmáticas personagens. Quando está movida a desimpressão, encara a paz das telhas e faz chover canivetes e demônios incautos para martírio das cicatrizes. Por isso que seu choro é para dentro e tudo que por fora fica, oco se torna. Tudo vaza para dentro em contrapassos da lógica. Isso porque essa moça é um poço de rebeldia, um calabouço das convenções. Seu coração é guardado numa pochete cadeada. A fome ela guarda no congelador porque acha terrível não ter fome. Mas quando se chega ao conto "Eu tenho medo de Górki", é o leitor que se fere sobre um formigueiro de imagens. Dóris emerge como última esperança de salvação do código. A palavra sobrevive.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Em "Capricho 43" ela revela: "Eu sou o inseto sobre a cama (...) Eu sou os dois - o que observa e aquele que se abandona à medida da vista de seu observador (...) Eu sou uma frase de não-sentido". Já em "Quase uma fantasia", ela mostra muito conhecimento de Beethoven. Chega a concluir que não foi o compositor que ensurdeceu mas o mundo que de repente emudeceu. Tudo semelha a uma "ode à melancolia em fim de tardes maceradas e distraídas no mormaço da escuridão". Essa melancolia também transpira do texto de Ângela como para dizer que é a morte que abre as portas ao mundo da alegoria. Daí que seu talento é assombroso e seu mundo é como que algo despedaçado a necessitar de um ajuntamento de cacos para dar sentido ao existir.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Além da colocação da fome no congelador, Ângela ronda a cidade com os olhos cheios de sede. Mesmo assim, sua verdade é verde, a morte é branca. Ela consome a cidade e,ao mesmo tempo, dela vaza pelo oco incrustado no meio das falas e das coisas. Então ela pensa em não mais pensar, mas apenas transitar pelos "caminhos lodosos de suas rusgas internas", como quem conta grãos sem a certeza de que os está contando. Isso não impede de, escondida, rasgar as coisas de dentro para fora e brotar nelas, emergindo de mergulhos. Essas coisas são tão vasculhadas que, personificadas, a autora praticamente executa uma terapia que funciona a partir do leito das metáforas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">A leitura do mundo, feita por Ângela Calou, dispensa significantes porque seu pé de apoio está muito aquém das superfícies. As poucas vezes em que emerge dessas profundidades é para roubar as cores das coisas, numa traquinagem que estilhaça as encostas da tarde. Daí que sua escritura radical se torna encantadora. Há um singelo encanto radical que faz do paradoxo uma brisa de outubro e extrai das metáforas mais sisudas seus sentidos mais inconfessos. Por isso que o foco de suas incursões no campo do humano se fixa na fala. Ela atua no que há de mais tenso entre o indivíduo e as engrenagens sociais. Essa tensão é sua matéria prima. Acontece que as coisas também entram como actantes nesse processo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Essas coisas são personificadas, dialogam entre si e também possuem seu código para colocar o mundo em desarranjo. É daí que nasce sua fala, como rescaldo dos atritos entre metáforas e metonímias. O corpo dá lugar á corporeidade, como uma desconfiança diante da pouquidade do que é sólido. Há um Antoine na sua vida que ousou entrar no texto, concha, molusco e boca, enquanto a sede é da narradora. Amá-lo é amar-se. É por isso que pela segunda vez ela tem dezoito anos. Antoine é o Poeta de Meia-Tigela? É o que sugere o Posfácio, que se configura como a culminância do livro. São indizeres que não deixam de dizer. São doeres que não deixam de doer. São desestórias que não deixam de historiar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">É difícil não ter medo de Górki. É uma leitura para ser feita pelo avesso. Uma transgressão precisa de uma leitura transgressora. É preciso alojar-se na estrutura profunda para encetar uma emersão de dentro para fora. É preciso impregnar-se de sombras para a conquista da mais nítida claridade. O oco que ela vasculha nas falas e nas coisas é um buraco a ser preenchido pelo leitor, é um vazio que quanto mais repleto fica, mais oco se torna. Não se lê Ângela Calou se não se usarem as suas e as nossas ferramentas de escavação. Há uma teia que ela tece, que pesca o leitor de fora para dentro, para que tudo comece pelo porão. Há uma caverna que nos engole, metáfora de Jonas, o profeta.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Por fim chega-se ao final do livro com a ilusão de que se conclui a leitura. Impossível livrar-se de um afogamento se a batalha da emersão não continuar além do texto que nos é dado. Ângela Calou abre apenas uma fenda que engole o leitor, afogando-o. A leitura é pois um desafogamento. O signo verbal parece ser incompetente para ajustar significado e significante. O referente cai numa deriva que o obriga a criar um porto para chegar. Esse dilema sugere a metáfora do dilúvio quando a autora promove um ponto de chegada. A leitura desse livro é um exercício de coragem. É preciso perder-se para se conseguir achar-se. Se Ângela Calou tem medo de Górki, eu tenho medo de Ângela Calou.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">(Publicado no Caderno 3 do Diário do Nordeste, edição de 20/03/2012: </span><a href="http://virtual.diariodonordeste.com.br/eds/2012/03/20/D/paginas/pdf/D3.pdf">http://virtual.diariodonordeste.com.br/eds/2012/03/20/D/paginas/pdf/D3.pdf</a>)</div>Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-76878408576604992402012-03-06T23:00:00.000-03:002012-03-30T23:31:01.585-03:00Para que nunca-nunca soubesse<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPHCr-DsqP8wE2pTtf3_BJlLf86XiqEKkTx3iXua2Rd2nVGXGYGZOhdpO9tW3h0RCjjV8LZCbH3JhuLzuoop2NlOTsP7jUMRqTvFSWm0v1e9ya-A3xJDxHXZwNRdZH-2lF9WkjJ5lFN2E/s1600/Heinrich_Vogeler_1872-1942-M%C3%A4dchen_mit_Katze-1914-Haus_im_Schluh-Worpswede.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPHCr-DsqP8wE2pTtf3_BJlLf86XiqEKkTx3iXua2Rd2nVGXGYGZOhdpO9tW3h0RCjjV8LZCbH3JhuLzuoop2NlOTsP7jUMRqTvFSWm0v1e9ya-A3xJDxHXZwNRdZH-2lF9WkjJ5lFN2E/s400/Heinrich_Vogeler_1872-1942-M%C3%A4dchen_mit_Katze-1914-Haus_im_Schluh-Worpswede.jpg" width="300" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: x-small;">Mädchen mit Katze - Heinrich Vogeler</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: x-small;"> (1872-1942)</span></div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: x-small;"></span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Duas nuvens pesadas, em promessa de compromisso, aproximam-se a cada minuto, sorvem a abertura de um quarto de céu lilás. Embalados pelo vento ameno, detritos conhecem detritos, mudam de lugar transportados pelos pés de crianças animadas que carregam, de lado a outro, o cuidado de suas babás. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Camila devolve à mesa o estalido do copo. Vagueia pela debilidade do betume velho a ajuntar os blocos de cerâmica negra no chão do café. Retorna aos lábios finíssimos de Ezequiel, relê sorrisos capturados nalgum passado. À procura de arcanos nos arcos das sobrancelhas, depõe os óculos sobre os riscos azuis do guardanapo. Aperta os pinos e retoma os lábios – que frágeis lhe parecem como a memória dos sonhos naquele instante em que a vigília é ruptura, inescapância, incandescência de importuna imposição. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Pássaros despertos tornados mínimos dispersos grafam voos distantes sob o fim da paisagem. Passantes levando sacolas prescindem estranhamente do ódio e da pressa. Quatro pipas paralelas abandonam seus passeios e, o garçom, à altura da janela, sugere que a tempo troquem de mesa, a chuva ameaça descarregar. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Há casos em que a luz dos interiores é feita em quantidade para mal-iluminar. A sombra leva dos rostos um lanho estrábico de impedimento, o escuro conturba a visão para que livre seja nos ares o som das gargantas em ecos incautos de revelação. A noite viabiliza o cheiro das torrentes íntimas de confissões necessárias e os olhos de Ezequiel procuram a máquina de fotografar que, no parque próximo, enxerta na natureza a dupla mira do globo ocular. Constata que Camila dispõe, como antes, parte do cabelo por trás da esquerda orelha miúda e, também como antes, assim sem concreto empecilho e completamente dado à visualização, muito pouco de seu rosto é possível considerar, conhecer, adensadentrar. Os joelhos descobertos e as mãos protegidas do mundo na concha uma da outra. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Garfos perfuram com facilidade a carne macia de um bolo-pudim. Nacos de impressionismo salpicam a boca de uma boneca – pendida no teto, parece leitora dos quadrinhos de jornais velhos colados à parede na vez de decoração. Ondas de expressionismo chocam-se à micrológica da saliva de Camila, ela enlaça a toalha e a língua em dizeres entrechocados e imagéticos. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Lívido é a palavra literária para Ezequiel – pensa depois da recusa da água tônica oferecida discretamente pelo mesmo garçom. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Não há modos de fugir dos olhos, se se usa os olhos para tanto. O olho abriga os ângulos e as geografias dos vincos da verdade e a verdade, de blocos de pedra faz corpos revestidos de aberturas. Imagem submetendo conceito. O choque. O silêncio se debatendo, tal borboleta sob as redes e alfinetes de um impassível colecionador.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">A palavra às vezes esmurra a boca para fugir da palavra e encontrar o silêncio e pensar usando silêncio ao invés de palavra:</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
</span><br />
<div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
</span></div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">– Fui eu, sim, Ezequiel. Roubei o teu boneco Playmobil. Quebrei o pezinho dele. Joguei-o, de medo, debaixo do guarda-roupa, para que nunca-nunca soubesse de meu crime de menina, e assim, naqueles dias em que teus sonhos repeliam a prefigura da ruína desse vago de esperanças, não me quisesse mal, ainda que mal fosse apenas um olhar de desgosto atravessado pela lembrança do brinquedinho estragado.</span></div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
</div>Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-15353373898778959762011-12-16T18:42:00.001-03:002011-12-16T19:41:04.878-03:00Antoine voltou a pé<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj90aAaHgHhkqAMn6bKQbVcGvrRG_UceDIyFsPtcwzv8okrNOs-HdeeRF51p6L2FuOhON48XCXmYw4DGVUG_TqGozv4UWumaRowKs2hEGPf4XDyzKFpIg7B6XXFocdWKRZrCtdQCN8_ZYI/s1600/O-louco-d.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj90aAaHgHhkqAMn6bKQbVcGvrRG_UceDIyFsPtcwzv8okrNOs-HdeeRF51p6L2FuOhON48XCXmYw4DGVUG_TqGozv4UWumaRowKs2hEGPf4XDyzKFpIg7B6XXFocdWKRZrCtdQCN8_ZYI/s320/O-louco-d.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"></span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">"O Louco" - <span style="line-height: 29px; white-space: nowrap;">Mauricio Takiguthi</span></span></div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
</span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><span style="line-height: 29px; white-space: nowrap;"><br /></span></span></div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
<div style="text-align: justify;">
Antoine voltou, sem que nunca eu soubesse como. Verifiquei várias vezes seu triste fim, toquei com os dedos o líquido verde que lhe escorria pelo nariz, fechei seus olhos para que não assustasse ninguém a vitrina adoecida de sua morte encomendada pelo costume negro de meu espírito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Colhi as flores, fiz o café, um pouco amargo, é certo. Levei aos ombros a pá mais pesada para garantir o profundo do lugar de desova de seu corpo inoperante. Eu mesma. Tudo. Inclusive coisas pequenas como o enlaçar dos dedos sobre o peito fatigado da luta contra o travesseiro que usei, outrora, para lhe roubar a corrente de ar. Inclusive a camisa branca com listras pretas e o suspensório sobre a calça xadrez, onde escondida no bolso direito, encontrava-se ainda a caderneta amarela que, por anos, salvara no fenômeno as ideias de Antoine, lá, embaixo da escada, à luz imóvel do velho abajur.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estava morto, nada vivo teria lábios tão frios. Ocorre-me, porém, a cruel possibilidade da dúvida, a faca cega do engano afiada na pele, na ausência de pedra-pome. E se Antoine me assistisse com um meio olho aberto, de soslaio, rindo por dentro de minha crença na eficácia de minhas próprias mãos? E se tudo não passasse de erro? E se o frio nos lábios fosse coisa dos meus lábios apenas, impressão de minha refratária condição?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A morte era um rato metafísico, roedor espectral que rondava agora a minha carne, pois é sabido que, aquele que escapa a uma emboscada, segue tentado invariavelmente a reproduzi-la na condição invertida de arguto algoz. Antoine não me sorriria, pois também é sabido que, quem não morre de susto, segue tentado a reproduzir no outro esse mesmo susto e, assim, quem espera, como eu, cai num soluço implícito que por nada quer passar – como se soubesse num lugar interno já ser essa hora coisa marcada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Restava-me a capitulação. Depois de carregar um corpo morto com o dobro do meu peso por horas, dias, talvez semanas, meses de presença morta, alucinógena, debilitada, tive a impressão de que encontrara um lugar distante. Percebo, agora, que era, pelo contrário, muito perto, pois vejo que Antoine voltou a pé.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Devia eu ter-lhe quebrado as duas pernas no exercício de minha maldade, vê-lo sofrer, banhada de água doce e de veneno e, desse modo, ter adiado o estranho problema, pois com o trauma de seus membros, ele certamente demoraria. Não pensei na hora, e assim pago por isso: será este então o meu fim? Nego-me, no entanto, a pagar por isso: em minha bolsa de mão, a solidão de uma última moeda. Aquela que se destina ao jogo de cara ou coroa que terei de fazer a cada bifurcação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Meus cabelos começaram a cair, meu corpo dança outra vez no vestido de flores que, de repente, pareceu bem maior, como Alice e os pedaços de sonho que a faziam esticar para fora e para dentro. Em meu caso, porém, são pedaços de um pesadelo. Antoine voltara e, mesmo se nunca fosse imagem na minha retina, velado em uma suspeita obsessiva, seria mais que possibilidade: a irrefutável certeza do assombramento de calafrios.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(Extraído de Eu tenho medo de Górki & outros contos, 2011)</div>
</span><br />
<div style="margin-bottom: 1em; padding-bottom: 0px; padding-left: 8px; padding-right: 8px; padding-top: 0px; text-align: justify; width: 36em;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 20px;"><br /></span></span></div>Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-59191185186356857822011-10-07T00:46:00.008-03:002011-11-27T15:11:03.152-03:00Ângela Calou e a captura do fugidio - por Nilto Maciel<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB8Zydp_B51FZWUJdBCv3e-qDCG1OnRPERJoPOZ6sKhR0CADF1GCXkpF_W5avgo_pLuvAQNZThkw0RHIk_6LyKmpsfApb44lOAdzbHbh0UCUMc-wlfJEIKP3bnZ1fg6iU4djOK04FfR-0/s1600/m197701160002.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 225px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB8Zydp_B51FZWUJdBCv3e-qDCG1OnRPERJoPOZ6sKhR0CADF1GCXkpF_W5avgo_pLuvAQNZThkw0RHIk_6LyKmpsfApb44lOAdzbHbh0UCUMc-wlfJEIKP3bnZ1fg6iU4djOK04FfR-0/s320/m197701160002.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5679739084658390738" /></a><span class="Apple-style-span" style="background-color: rgb(255, 255, 255); "><div style="line-height: 24px; font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; text-align: justify; "><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; "><span class="Apple-style-span"></span></span></div><span><div style="text-align: justify;"><br /></div></span></span><span><div style="text-align: justify;"><span><span>É de 27 de agosto de 2011 a dedicatória de Ângela Calou, em Eu tenho medo de Górki & outros contos: “Ao caro Nilto Maciel, em suas luzes vermelhazuis de carnavalha, dedico este pequeno diário de sonhos imaginários e nacos de desrazão. Desta, que nem sabe domar o próprio medo”. Para quem não sabe, dois de meus recentes livros são Luz vermelha que se azula e Carnavalha. Tenho um soneto intitulado “Nem sei domar meus próprios cães”. Górki eu li pela primeira vez (ou segunda, pois durante o curso ginasial li uma antologia de contos russos) nos conturbados anos 1967/70: Mãe ou A mãe, leitura obrigatória de todo comunista.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span><br /></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span>O que significam “diário de sonhos imaginários e nacos de desrazão”? Todo escritor escreve um diário (a obra), mesmo aqueles que escrevem de vez em quando ou com lentidão. Todo diário de quem escreve literatura é constituído de sonhos. Todo sonho de escritor é imaginário. E isto é a desrazão. Ou a “captura do fugidio”, de que fala Tércia Montenegro.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span><br /></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span>O impresso de Ângela é pequeno, traz nas abas uns elogios de Pedro Salgueiro, um prefácio (“Uma arte que vicia”) de Tércia Montenegro e um posfácio poético (“Para Ângela Calou, o método secreto das fechaduras”) de O Poeta de Meia-Tigela, além das 22 peças ficcionais, num total de 96 páginas. Talvez apenas 70 com texto. Entretanto, que beleza, que riqueza, que pujança! Sim, quantidade não quer dizer qualidade. Quem não sabe disso?</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span><br /></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span>Como todo bom livro de prosa de ficção, este de Ângela Calou nos remete, inicialmente, a duas perguntas: Quem narra? O que narra? Vejamos “Antoine voltou a pé”. Quem é o narrador? “Antoine voltou, sem que nunca eu soubesse como”. Quem é esta mulher, cujos “cabelos começaram a cair”, para quem “a morte era um rato metafísico” e que pouco fala de si mesma, ocupada com a morte de Antoine? Talvez não seja tão importante para o leitor saber quem narra. Certamente os personagens são mais úteis à ‘trama’ do que os narradores. Pois Antoine está na primeira (“Antoine voltou a pé”) e na última (“Eleve-me! – foi o que lhe pedi”) composição do volume. O que isto significa? Que tudo é um círculo? Outros nomes se repetem ou voltam à baila (narração?): Céu (que nome mais inusitado!), Carlile, Amábile, Rudah, Querubim (presentes também em “Marca d’água”). Há ainda Alice, que pode ser aquela mesma de Lewis Carroll. Como não ser, se está até num dos títulos: “Sobreaviso para Alice em seu país”? Que assim se inicia: “Alice, se tu soubesses como o teu mundo é pequeno”. E assim termina: “Tudo de tal modo pequenino que, apenas tu, podes saber, Alice, que atrás do espelho existe apenas o papelão”. Será uma recriação dela? O Poeta de Meia-Tigela fala em ressurreição. Sim, alguns escritores criam, matam e fazem ressurgir seus seres ou suas criaturas: “Que das palavras emane / A morte desse Antoine / E sua ressurreição:” (são os primeiros versos do poema-posfácio).</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span><br /></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span>Ângela segue à risca a lição de Guimarães Rosa: a estória não quer ser história. Quem dirá que “Da anatomia de um enganado” (narrado por mulher) é conto? Calou não é uma regionalista e não faz questão de ser (ou parecer). No entanto, tal como o Graciliano de Angústia ou São Bernardo, não renega o vocabulário nordestino (ou português antigo), e expressões populares: “calças pegando marreca” (p. 24), “homem muito resolvido” (p. 30). Não tem preconceitos desse tipo. Também não se peja de recriar frases de Guimarães Rosa, o mais nordestino dos escritores do sudeste brasileiro: “Claus desaconteceu de repente”. Ou de aspirar enredos da literatura clássica. E ainda vai e vem num bamboleio de frases supinamente inventadas pela poesia guardada na memória. Além disso, de vez em quando, larga umas frases que nos pegam de surpresa: “como um guarda-chuva que esqueceram de perder”.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span><br /></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span>A narradora de “A teia e a aranha, mosca distraída fui” faz um passeio pela tradição literária do amor: Sofia e Capitu, “aquela náusea alegre que se quis chamar amor” (a lembrar o lírico Camões), a flauta e os ratos da lenda germânica (artes do encantamento), Der Blaue Wittelsbacher (o diamante azul de Filipe IV), “ofereceu-me uma maçã” (Branca de Neve). O que demonstra (mas a contista não faz questão de comprovar nada, erudição ou conhecimento literário) aguda percepção das entrelinhas das lendas, da história e da literatura.Os protagonistas e narradores (masculinos e femininos) de Ângela são todos enigmáticos. A de “Antoine voltou a pé” lamenta não ter “quebrado as duas pernas” de Antoine, no “exercício de minha maldade”. Esse Antoine aparece de novo em “Há coisas que devem morrer”, que assim se inicia: “E assim morreu Antoine”.A morte está presente em quase toda a obra de Calou. Em “Marca d’água”, a mãe da que narra se suicida: “Eu tinha quatorze anos quando mamãe furtou-nos de sua presença” (...), “naquele dia de luz nenhuma” (Rosa). Nessa narrativa curta (pouco mais de duas páginas) há diversos personagens, todos com nomes explícitos, o que é uma marca de Ângela.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span><br /></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span>Em “A teia e a aranha, mosca distraída fui”, Carlile é um vendedor ambulante, um mascate, desses que andavam pelos caminhos, a pé, montados em alimárias ou em carruagens, um cigano, vendedor de sedas, sabedor das artes do encantamento, prontos a seduzir meninas, adolescentes, donzelas, mulheres sonhadoras (“aprendi a desaprender meus modos de menina”), com ofertas de maçãs (Branca de Neve) e outros mimos. “Quando Joana enlouqueceu” (...) Assim se inicia “Joana em dia de seu avesso”, a lembrar aquele poema célebre do mineiro Alphonsus de Guimaraens: “Quando Ismália enlouqueceu, / pôs-se na torre a sonhar...” Até que (é o desfecho) “ateou, distraidamente, fogo ao próprio corpo”. Em “Naquele tempo, naquele lugar”, o que narra se refere a “ciclope adoecido”, “demônios incautos”, “errantes desapressados”, “um homem de roupa preta e pés rachados”, “o retratinho do noivo enforcado”. Nenhum nome de ser fictício é mencionado. Como num sonho interminável.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span><br /></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span>O conto do título da coleção é narrado por um homem que não lê Górki, não tem coragem de ler o escritor russo: “Eu tenho medo de Górki”, afirma de chofre, logo no início do escrito. Mas, logo adiante, se justifica: “Eu tenho medo de Górki, e nunca vou lê-lo enquanto estiver sozinho, à mercê do deboche de todos os meus fantasmas reunidos sob o vidro dos meus desafetos”. É um assassino, um arrombador de casas, um louco. Confessa-se: “Sou eu o arrombador”. Sua nova vítima é Dóris, que “tem trinta e cinco anos e é manca da perna esquerda”.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span><br /></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span>Ângela não pratica o que chamam de “conto fantástico”. Entretanto, em algumas ocasiões, vai além do normal, do real, do razoável, como em “Do oco no meio das falas e coisas”. O narrador confessa: “meu pensamento vazando para fora, e todo mundo vendo”. Ora, quem vê pensamento? As falas (do paciente e de seu interlocutor, médico) se intercalam sem qualquer indicação. Quem mais fala, é claro, é o ‘doente’, que até ironiza o médico: “O senhor, doutor, é um técnico. Que posso eu contra palavra de um técnico?” Na verdade, a contista aboliu completamente certos cacoetes (não só nessa obra), como o diálogo com travessão, verbos dicendi ou aspas. Como se diz, vai direto ao assunto, sem lengalengas, sem quiprocós de quem só sabe contar história (quando sabe).</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span><br /></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span>Não consigo ir além disto (já me sinto em sonho imaginário ou em plena desrazão). Preciso reler os enredos fugidios de Ângela Calou, se quiser me manter real e razoável.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span><br /></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span><span class="Apple-style-span">Fortaleza, 3 de outubro de 2011.</span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span><span class="Apple-style-span"><br /></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span><span class="Apple-style-span"><br /></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span>(Publicado originalmente no blog:</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span><span><a href="http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/2011/10/angela-calou-e-captura-do-fugidio-nilto.html">http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/2011/10/angela-calou-e-captura-do-fugidio-nilto.html</a>, postagem de 04-10-2011)</span></span></div></span><span class="Apple-style-span" style="background-color: rgb(255, 255, 255); "><span class="Apple-style-span"><span style="line-height: 24px; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; "><div style="text-align: justify; "><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; "><span class="Apple-style-span"></span></span></div></span></span></span>Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-17973025594077048542011-07-28T11:39:00.005-03:002011-07-28T11:57:02.345-03:00A ficção de Ângela Calou - por Inocêncio de Melo Filho<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEFKpO7joYPbZiLa6DjYcOdgtuCpPi8vzLVyzkPJliF9DYRHD9OCbSjUsMaoAsae_Acp2BXuqPsn6yNCE-y3E862BDMBrojGkzFBMDtO8FunQCjdgSj8vRbHpj76xI7YLUG2xh0gsrdBE/s1600/100B1570.JPG" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 252px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhEFKpO7joYPbZiLa6DjYcOdgtuCpPi8vzLVyzkPJliF9DYRHD9OCbSjUsMaoAsae_Acp2BXuqPsn6yNCE-y3E862BDMBrojGkzFBMDtO8FunQCjdgSj8vRbHpj76xI7YLUG2xh0gsrdBE/s400/100B1570.JPG" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5634413428222480290" /></a><br /><div><br /></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, Utopia, 'Palatino Linotype', Palatino, serif; line-height: 22px; "><div style="text-align: justify; "><span closure_uid_uhomol="168" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; ">É com o livro <em>Eu tenho Medo de Górki e outros Contos</em> que Ângela Calou estréia em nossa literatura, confirmando ser ela o milagre mais recente do conto Cearense. Seus textos são bem tecidos e lhe permitem usufruir do espaço pertencente a Joyce Cavalcante e a Tércia Montenegro. Nesta obra de estréia já podemos identificar dizeres acertados que norteiam o início de uma fortuna crítica manifestada nas orelhas do livro e no prefácio, tendendo ampliar-se a partir das novas leituras que hão de ser feitas pelos estudiosos e críticos literários. Justificando o que estou a dizer, Pedro Salgueiro assim se expressa: “Ângela Calou, em seu belo e pungente <em>Eu tenho</em><em>Medo de Górki & outros contos</em>, nos traz histórias cativantes, ternas e instigantes ao mesmo tempo. Contos bem ditos sem serem comportados. Com leveza vai tecendo suas tramas, com inventividade vai nos cativando linha a linha, parágrafo a parágrafo, conto a conto. Sabe como dizer e, principalmente, tem o que nos contar. Não nos sentimos enganados com (apenas) as pirotecnias dos falsos inventores, tão em moda nos nossos tempos. Tércia Montenegro de forma acertada nos revela: ‘Ângela sabe qual o seu papel de criadora: aceita mexer nas formas estáveis, não se satisfaz com convenções. Cada uma de suas histórias é um gesto libertador, uma espécie de ultrapassagem. A escrita não se define “pela técnica dos dicionários”: procura sua própria medida de linguagem, seus feitios de modelar o texto, figurá-lo como vida literária”.</span></div><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; "><div style="text-align: justify; "><br /></div></span><span closure_uid_uhomol="183" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; "><span class="Apple-style-span"><a name="more"></a></span><div style="text-align: justify; "><span class="Apple-style-span">Os contos de Ângela Calou vão aos poucos nos revelando suas leituras, seus autores, dizendo-nos que um escritor é também um exímio leitor. Reiterando que a literatura nasce da literatura, como bem sabiamente nos ensina Jorge Luis Borges. Por baixo do tecido dos seus textos, vamos percebendo outros textos, outros autores, uma espécie de palimpsesto, que nos faz reconhecer Machado de Assis, Nietzsche, Lewis Carrol, Kafka, dentre outros. O livro de Ângela Calou não se organiza em blocos de divisões temáticas, mas cada conto internaliza uma temática de cunho universal, apegando-se a um discurso indireto e a uma narrativa com predomínio de terceira pessoa. Destacando-se mais a narrativa e o discurso. Esse recurso usado pela ficcionista nos faz entender que o narrador tem muito a dizer e as personagens não dominam as tamanhas falas e saberes.</span></div><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; "><div style="text-align: justify; "><br /></div></span><div style="text-align: justify; "><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; ">Filosofia, aforismos, prosa com tendência poética, a loucura, a metamorfose do ser e das coisas, narrativa fantástica (fantástico), inseridos numa linguagem conotativa caracterizam a prosa de Eu tenho Medo de Górki e outros contos, impedindo que o leitor saia das suas páginas sem as marcas das memórias, advindas das leituras que particularizarão em sua mente enredos diletos. O conto “met(amor)fose” nos lembra o filme “O livro de Cabeceira”, no qual Nagiko é uma espécie de papel onde seu pai e o seu marido produzem escritos diversos. O conto mencionado, além de estabelecer contatos com o filme, faz desfilar diante das nossas retinas termos que definem a ideologia de um conceito: “Ando brincando de criar e esconder conceitos nos atalhos secretos de tua pele. Ando brincando... E que isso fique desde já muito claro. Os conceitos são pedaços de pensamento muito bem conectados, são claros e cheios de intenção. (...) Eis que, melhor filósofa que amante, fui criar outro conceito. A tua pele borrada não dava espaço para escrever mais nada” (...)</span></div><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; "><div style="text-align: justify; "><br /></div></span><div style="text-align: justify; "><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; ">A maçã se mostra no “Gênese proibida a Adão e Eva”, simbolizando pecado (desobediência) gerador de morte. No conto “A teia e a Aranha, mosca distraída fui”, a maçã se manifesta a princípio com o sentido de afetividade, aceitação aludindo ao amor. No último parágrafo da narrativa a maçã simboliza a morte e a personagem, ao contrário de Adão e Eva, resiste à tentação, e a morte, embutida no fruto, não alcança seu objetivo. A presença da maçã na ficção de Ângela Calou se estende aos contos “Joana em Dia de seu Avesso” e “Naquele Tempo e Naquele Lugar”, expressando dimensões imagéticas e pictóricas.</span></div><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; "><div style="text-align: justify; "><br /></div></span><div style="text-align: justify; "><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; ">“Rosa, cê tá me ouvindo, sua peste?” Esta indagação pertence à voz do narrador do conto “A Fuga”, o qual registra em sua narração o falar da personagem e nos faz perceber um chamado, ou seja, um vocativo que abre caminhos para estudos lingüísticos, por conter linguagem informal e exemplo de variação de linguagem. A presença do vocativo também se faz no conto “Sobreaviso Para Alice Em Seu País”: “Alice, se tu soubesses como o teu mundo é pequeno”. O chamado que agora se faz aqui se mostra desprovido da fúria do primeiro exemplo, numa linguagem mais formal. Ainda com esse conto, no último parágrafo persiste um exemplo interrogativo de vocativo invertido: “O que podes tu alcançar, Alice, em um mundo que esticou para dentro num assalto às fronteiras que determinam o solo que é teu, se a soma de teus sentimentos é uma vaga subtração, se todo o teu pensamento é coisa que ocupa um único vão?”</span></div><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; "><div style="text-align: justify; "><br /></div></span><div style="text-align: justify; "><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; ">O eolismo, além de ser uma propriedade da literatura universal, se destaca intensamente na literatura cearense. A prosa de Ângela Calou reitera essa realidade em vários dos seus contos, atribuindo-o uma classificação urbana, em outro contexto substantiva-o e por fim personifica-o, para que nem o vento escape de uma dimensão demasiadamente humana.</span></div><div style="text-align: justify; "><span class="Apple-style-span"><br /></span></div><div style="text-align: justify; "><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; ">Cores explícitas e implícitas estampam os contos de Ângela Calou, sem ceder aos apelos da cromoterapia. Que segredos elas desejam nos revelar? Talvez só desejem nos dizer que precisamos “roubar as cores das coisas” e estampar a cor preta com o colorido da nossa imaginação. O primeiro parágrafo do conto “Claus Foi Embora” serve- nos para demonstrar um exemplo de cor implícita: “Era janeiro quando Claus foi embora. A gente da cidade respondeu sem surpresa ao ocorrido. Foi antes de o sol sair para chegar a tempo da partida do trem, levando quase nada nas mãos, umas flores apenas, porque era esse o seu modo discreto de mentir em silêncio que não tardaria a voltar”. A cor explícita se nota com nitidez nesse trecho do conto “Feliz Data”: (...) “O único vestígio de cor que se via era o vermelho velho de dois ou três extintores de incêndio na vertical, escalando as paredes”.</span></div><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; "><div style="text-align: justify; "><br /></div></span><div style="text-align: justify; "><span closure_uid_uhomol="151" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; ">O fantástico a que nos referimos anteriormente é um gênero literário que se caracteriza por subverter o real, lidando com o sobrenatural, com o irreal. Destacando-se em José Alcides Pinto, Angela Gutiérrez, Nilto Maciel, Ana Miranda, Dimas Carvalho, Natércia Campos, dentre outros, e mais recentemente em Ângela Calou, de forma mais intensa no conto “Do Oco no Meio das Falas e Coisas”, que foi incluído em <em>O Cravo Roxo do Diabo – O Conto Fantástico no Ceará</em> (2011), organizado por Pedro Salgueiro, inserindo a escritora no contexto dos que se distinguem nesse gênero. A presença do fantástico no conto já citado nos mostra uma realidade irreal, a personagem busca um médico, pois seus pensamentos estão frouxos, ou seja, notórios em uma veia que se alterou em sua sobrancelha esquerda, ele não quer que vejam seus pensamentos. O médico vê o caso com naturalidade, indicando à personagem um antiinflamatório e, além disso, propõe que ele não pense, isentando o caso de um perfil absurdo, estranho.</span></div><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; "><div style="text-align: justify; "><br /></div></span><div style="text-align: justify; "><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; ">Não consegui desvendar todos os enigmas dos bosques da ficção de Ângela Calou, não alimentei tal pretensão, apenas me encantei, que esse sentimento floresça também nos que ainda irão lê-la, que haja descobertas e redescobertas, confirmando ser Ângela Calou o milagre mais recente do conto cearense.</span></div><div style="text-align: justify; "><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; "><br /></span></div></span></span><br /><span class="Apple-style-span" ><span class="Apple-style-span" style="line-height: 20px; "><span class="Apple-style-span">(Publicado originalmente no blog </span></span><span class="Apple-style-span"><a href="http://literaturasemfronteiras.blogspot.com/2011/07/ficcao-de-angela-calou-inocencio-de.html?spref=fb">http://literaturasemfronteiras.blogspot.com</a>, </span>postagem de 27 de julho de 2011)</span></div>Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-47063587894694024512011-04-12T23:59:00.004-03:002011-10-07T01:03:41.652-03:00Solaris<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMXIpgH41p-FYV2S3ZWyk7MZnMYAmZbvFR857I6-0FLq_Sx0xmBprBBfa3gN7u9JoAnJm51vvxvPoBq2HN0oUWLTMYqwEB0clcHww9E1f5Sv7Oet-ZfXxIbjEUvOHxQEjrNVIgvOax1Kg/s1600/keaton_896435.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 196px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMXIpgH41p-FYV2S3ZWyk7MZnMYAmZbvFR857I6-0FLq_Sx0xmBprBBfa3gN7u9JoAnJm51vvxvPoBq2HN0oUWLTMYqwEB0clcHww9E1f5Sv7Oet-ZfXxIbjEUvOHxQEjrNVIgvOax1Kg/s200/keaton_896435.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5660596028969586594" /></a><br /><div align="center"><br /></div><br /><div align="justify">Fosse passo caminho? Fosse pássaro pouso? Fosse tu pergaminho? Fosse ária ou corso? Coubesse no canto um grito? Soubesse da luz um fosco? Amasse do corpo o rito? Roubasse da vida um pouco? Dobrasse barco em branco papel? Rondasse as frestas dos inimigos? Sonhasse o mastro golpes ao céu? Tolhesse as flores feitas de vidro? Tombasse o veio da imensidão? Lanhasse as voltas do inconcebível? Trançasse os punhos da exatidão? Danasse as rotas do mundo crível? </div><br /><div align="right">Bah, lanço Acab-Eça..: Nau! </div>Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-7620020579689076942011-03-03T01:09:00.047-03:002011-03-03T03:11:21.107-03:00Andava distraída quando pensei<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhE7rcAnr6YnMRjQQ8FfIF3uqhoI7C4rWtCS7cKUUDeWYadFvRggWLpUrtwUY6rFF3SDUyi4RtzpB75m_d1cQu68tO9ScU2TzvFY1Zu2DIR3Jl1Ntyy6xHQJ5TAWo22UGmCyR3dmJCCr8U/s1600/chagall.gif"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 242px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhE7rcAnr6YnMRjQQ8FfIF3uqhoI7C4rWtCS7cKUUDeWYadFvRggWLpUrtwUY6rFF3SDUyi4RtzpB75m_d1cQu68tO9ScU2TzvFY1Zu2DIR3Jl1Ntyy6xHQJ5TAWo22UGmCyR3dmJCCr8U/s320/chagall.gif" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5579729435779752210" /></a><div style="text-align: center;"><p class="MsoNormal" align="center" style="text-align:center"><span style="font-size:9.0pt;font-family:Georgia;color:gray">(Marc Chagall, 1887-1985)<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" align="center" style="text-align:center"><span style="font-size:9.0pt;font-family:Georgia;color:gray"><br /></span></p></div><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span>Que de todas, nem todas que posso desejo ser. Mas é o que sou, não querendo ser, quando me desenha a partitura, bemóis entre comissuras, susten-idos, passos lentos... com. Oitava (décima? quinquagésima primeira?) nota, átona dentro das suas passadas predileções... <i>musicais</i>. </span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span>Quando <i><span class="Apple-style-span">concerta-mim</span><span class="Apple-style-span" style="font-weight: bold; ">,</span></i> desmonta-me. Desaba-me, como soltasse a minha mão para assistir-me atravessar sozinha aquela rua. Enlea sobre o enleio bonito dos corpos um vislumbre daquilo que esgarçará o encantatório – obituário antevisto desse Adejante Improvável que eu sonhei capturar aos pulos como raio luminoso, destino escrito e concreto – <span> </span>ignoto o calígrafo – nos sulcos de cada mão:<i> "Amor”...</i></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span"><span>Confunde-me. Duplica-me, grita-me a placidez da sua voz: </span><span><i>Cecília! Aneliese Roos!</i> Então, tenho um nome, um espaço e um tempo dentro de seu tempo, espaço e nome, quando tudo que quis foi fazer-me um timbre, um rasgo de olor apenas, idéia-alada, estalar oculto de morangos nascendo, o tênue da cor lilás, </span>a densidade de um gosto sabido na infância, a pujança de um gesto que se quer limpo, um gomo que misturasse a todos os pensamentos todas as sensações.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span"><span>Vejo-me, porém, </span>um lugar, uma hora, designação. Determinada, de-terminamo-nos.</span></p>Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-5400547954096975302011-01-27T22:42:00.056-03:002011-01-28T02:28:16.975-03:00Eu, um escaninho<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKRuPZQy-rECBxtk_s1W60Z0pGABhyUGF9C2VmUmBQmp4U5Kw_TQf8J_JuVFdF-WCVFFPIgfO44CJkOlbMeGSNUyB5-SYHozZDOp48AkxKt43KgJmUminuVyCzb2n07mDZrFbUE95f2vo/s1600/digitalizar0001.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 135px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKRuPZQy-rECBxtk_s1W60Z0pGABhyUGF9C2VmUmBQmp4U5Kw_TQf8J_JuVFdF-WCVFFPIgfO44CJkOlbMeGSNUyB5-SYHozZDOp48AkxKt43KgJmUminuVyCzb2n07mDZrFbUE95f2vo/s320/digitalizar0001.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5567085064278553442" /></a><div style="text-align: left;"><br /></div><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span">Dobrada a língua, dobra-se também a coluna – tal qual cipreste em fábula de La Fontaine. Verso livre, mão represada. Pesada, forjando à tinta um sentido-que, a se considerar. Mudez não é nome reduzido ao fim da palavra dita. É ausência, sobretudo, de gesto. Um aceno, um abraço, um soco. Quantas vezes, por silente e apavorada mão, negou-se o roçar delicado sobre o peito de algum amado? Quantas outras, os braços se retorceram para dentro, como grito que se abandona depois do não-estouro de algum balão? Quantas mais, formigaram as películas semivivas ao redor das unhas em resposta à contenção da violência contra faces merecedoras, desvelo de traição? Eu sou mudo, não porque não fale... mas porque não aceno, não abraço, não esmurro na hora em que isso tudo deveria ser.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span class="Apple-style-span"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom:9.0pt;line-height:19.2pt"><span style="font-family: Georgia, serif; color: rgb(64, 64, 64); "><span class="Apple-style-span"><span><span><span><span>[Em agradecimento ao Rafael, que tanto me disse sobre a "profunda noite secreta do mundo". http://osolhosdenarciso.blogspot.com]</span></span></span></span></span></span><span style="font-size: 8.0pt;font-family:"Georgia","serif";mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; color:#404040;mso-themecolor:text1;mso-themetint:191;mso-fareast-language:PT-BR"><o:p></o:p></span></p><div><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><a href="http://osolhosdenarciso.blogspot.com/"></a></p></div>Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-279782097520052268.post-19054853944129945192010-11-26T03:42:00.293-03:002011-01-14T16:06:46.637-03:00Entre arcanos e arcanjos<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWiwhd8oOs7bUmqTrw0-wAP9_8Z2uscLYXGyCumLqwxmHdY_OUT5CQv0qMOm37LQHOp95NTWpZc8c_s4tmbmV-tJ6wsF7PhJglskkrgtVfeQJ_godvLml3EAgxcUN5q7m7hdCYHKyCEhE/s1600/tarde.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 240px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5543814816764939282" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWiwhd8oOs7bUmqTrw0-wAP9_8Z2uscLYXGyCumLqwxmHdY_OUT5CQv0qMOm37LQHOp95NTWpZc8c_s4tmbmV-tJ6wsF7PhJglskkrgtVfeQJ_godvLml3EAgxcUN5q7m7hdCYHKyCEhE/s320/tarde.jpg" /></a><div style="text-align: center;"><i><span class="Apple-style-span" ><span class="Apple-style-span">(Foto de Renê Fernandes, João Pessoa - 04/10/2010</span>)</span></i></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" ><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgI03Y6546v0xmunUW6a0wwIecFems27m-Dr3LvdKEfMKYiN6Ou3zU-RlSlptoMNKhEIBZaLAedChgY_Govnn_LWQW7OEei92zRDBXYcdKH-yCJk_4BCVMPQ-kWIIL2hyNBYLKhd8RUkGo/s1600/delete_by_mediocre_matt.jpg"></a><span style="color:#999900;"></span></span></div><br /><div align="justify"><span style="color:#666666;">Ontem, Miguel Arcanjo passou pelo meu sonho. Olhou-me como se eu fosse <em>uma completa vagabunda de impressionante ar de desdém</em>, e salivando-me a cara - tamanha pressa e raiva cabidas em cada palavra - , disse-me num sobregolpe:</span></div><br /><div><div><div align="justify"><div align="justify"></div><div align="justify">- O silêncio é o fruto da vaga impressão de que, no futuro, quem te espera é a louca, é a fera feita de fome: a solidão. Macerada hera, invasora, meretriz, mera atriz dizendo: "sou, ou pensaste mesmo que, comovida, eu não viria?" </div></div><br /><div align="justify"><span style="color:#999900;"></span></div><div align="justify"><span style="color:#666666;">Estive certa de que, feito tal proferimento, voltasse com as mesmas raiva e pressa às coisas suas... isso de matar demônios e similares... Enganei-me. Dobrada a violência, tocava-me o rosto com seu hálito-eucalípto de anjo, cuja força imitava o bofetão de avantajado Gulliver:</span></div><br /><div align="justify">- Os olhos profundos serão, no teu rosto, duas tristes cicatrizes, dadas como marca d'água de um pretenso crime: o sequestro das imagens, a ousadia do desejo de olhando, além de <em>olhar: </em><em>ver - </em>usando a razão, que é tua mera lamparina. Deflorarás pêssegos; tocarás o ventre da terra e, de teu ventre, saberás pelo toque de outro; sentirás o olor suave da primavera; ouvirás a flauta doce do bico dos pássaros - para todos esses, crê, haverá preço também. Saibas que serás cobrada, outrossim, no teu mundo, pelo exercício do pensamento. Por pensar muito, será de riscos e dobraduras a tua pele. Por pensar muitíssimo, será de feridas, fendas abertas pelas pedras que te arremessarão, pois neste caso, serás inevitavelmente louca (Dizem que "os loucos são os melhores"... acrescenta a isso: "de se acertar com pedras"). Por pensar pouquíssimo - ah! que aqui, de início, nada te levam, ao contrário, dormirás apaziguada pela insuficiência de tua possibilidade significante e significada. Pensando nada, de tão vazia, serás leve. Até que um dia, desconfiarás, por alto, do império de tua burrice, então como os demais, enfrentarás o desgoto crepitante da descoberta de uma ilusão. Executada a lei diabólica do uni-inverso, da soma de dívidas que chamaste vida: nada te sobrará. </div><br /><div align="justify"><span style="color:#666666;">Perseguida em meu último subterfúgio, o reino dos sonhos literofantásticos, acordei. Desperta, não vi, pelo resto do dia, Miguel, o fiel. Vi, porém, no porteiro do prédio, no motorista do ônibus, no moço da pipoca doce, na senhora do cachorro quente com batata palha, no meu professor de ontologia, no gatinho siamês das proximidades da sala 512 e em meu reflexo na poça d'água de mar, os mesmos olhos de raiva, de pressa, de vontade de massacrar. </span></div></div></div>Ângela Calouhttp://www.blogger.com/profile/11412031307689905186noreply@blogger.com14