Quinta Impressão: O Diabo

quarta-feira, 9 de junho de 2010


Tens o tempo pendurado em teu braço direito, uma vez que o esquerdo, próximo de teu coração, jamais suportaria o peso melancólico dos ponteiros de Saturno, que na ausência de chiclete de menta, masca os filhos para variar o gosto da boca. Tens o meu afeto, nas segundas e quintas, pendurado num móvel feito para durar; nos armadores de uma parede branca, no resto dos dias, como um guarda-chuva que esqueceram de perder, e que há muito sabe que numa cidade feia e quente como esta a chuva nega com veemência a estada de uma tarde sequer. Tens a força dos que fingem a fraqueza para assim atrair, e depois...trair, mata-me pela terceira vez, quando do teu primeiro assalto ainda nem me dei conta. Tens nas mãos, as minhas mãos. E em minha preguiça imensa de ser agradável, o ato espontâneo de cada palavra. Tens na tua distração, tempo e espaço para brincar de estratagemas, teu pensamento amarra meus punhos, tortura meu corpo, maior que eu, menina que sou. Porém, quem sabe seja eu a fingir tudo isso, e meu discurso é que não seja limpo? - Mas como? - perguntar-me-ia você, tomando minha consideração como a afirmação perigosa que assusta um professor em sua árdua tarefa de deter o pensamento, e assim, sem entender o lapso de criatividade do aluno, retruca: "pensar, imagine só! que petulante!". Prossigo. Sim, enquanto finges para mim, eu, na vanguarda do engano, finjo para nós dois, pois há que se ter matéria bruta para dois ou três poemas.

4 comentários:

Anônimo disse...

No discurso onírico de uma "lady" um corpo preso, um discurso amarrado entre o mesmo e ele próprio...mas o que foram às quartas, às segundas e quintas? As portas, o cheiro e os medos... e os velhos Dias ainda teimam em rir juntos. Mas há matéria, cessem as outras as importâncias!

Ângela Calou disse...

E todo o resto... é segredo nosso, Samu...rs

Muito bom...sempre me faz rir na transposição perfeita das imagens...Bj

Rafael disse...

Concordo com Samu... há matéria. E às vezes, nem tão bruta...
: )

Ângela Calou disse...

Meio para os prazeres do corpo; matéria bruta ou "às vezes nem tão bruta" para os prazeres de seu depósito sobre o papel. O gozo estético como moeda de troca; e o gozo metafísico, também. Comércio cujo referencial será o corpo ou o pensamento, mas comércio, e empobrecido. Pó-rém, é preciso escrever poesias, oras! E somar líquidos também... as casas de bonecas possuem agora dupla pertença, "não havendo mais inocentes no reino das posses" - como quis certo senhor...

Bjus Rafa.


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Thank you very much, SKIZO.
Welcome.