Andava distraída quando pensei

quinta-feira, 3 de março de 2011

(Marc Chagall, 1887-1985)


Que de todas, nem todas que posso desejo ser. Mas é o que sou, não querendo ser, quando me desenha a partitura, bemóis entre comissuras, susten-idos, passos lentos... com. Oitava (décima? quinquagésima primeira?) nota, átona dentro das suas passadas predileções... musicais.

Quando concerta-mim, desmonta-me. Desaba-me, como soltasse a minha mão para assistir-me atravessar sozinha aquela rua. Enlea sobre o enleio bonito dos corpos um vislumbre daquilo que esgarçará o encantatório – obituário antevisto desse Adejante Improvável que eu sonhei capturar aos pulos como raio luminoso, destino escrito e concreto – ignoto o calígrafo – nos sulcos de cada mão: "Amor”...

Confunde-me. Duplica-me, grita-me a placidez da sua voz: Cecília! Aneliese Roos! Então, tenho um nome, um espaço e um tempo dentro de seu tempo, espaço e nome, quando tudo que quis foi fazer-me um timbre, um rasgo de olor apenas, idéia-alada, estalar oculto de morangos nascendo, o tênue da cor lilás, a densidade de um gosto sabido na infância, a pujança de um gesto que se quer limpo, um gomo que misturasse a todos os pensamentos todas as sensações.

Vejo-me, porém, um lugar, uma hora, designação. Determinada, de-terminamo-nos.

7 comentários:

ma grande folle de soeur disse...

sempre belo o enleio dos seus jogos de palavras e conceitos... abraço

Roberto Cunha disse...

Como sempre muito bonito seus escritos, Ângela. Mas os do exílio em JP têm uma coisa a mais, que ainda não consegui identificar o quê é... Saudade, ausência, intensidade... não sei.

Ângela Calou disse...

Lucília, obrigada. Li hoje "Letras"... um desenho infantil, tão delicado retr-Ato de amor! Eu tinhas saudades suas, abraços!


Roberto - João Pessoa ou João Peçonha (tomando de empréstimo a expressão Tigelírica)??... que um pouco dos dois. O sentimento de exílio aumenta na medida em que não as cidades, mas as pessoas se tornam nosso "lugar no mundo". Também acho que os últimos textos passem por esses três. Obrigada pela leitura, abraços!

Anônimo disse...

AVALOVELEMO-NOS

Sinto ser mais bela Aquela
Cujo nome não é dito;
Pronunciá-lo: interdito,
Pois nominá-la é perdê-la...

Anônimo disse...

Profundo demais.
Abç poeta.

Mendes Júnior disse...

Ângela, um texto forte, com bonitas imagens. Gostei bastante. Abraços sempre sinceros.

Ângela Calou disse...

À Waleska:
Agradeço a sua visita ao 7 bonne Terre e a contrapartida da leitura em comentário. Abraços!

Ao Mendes Júnior:
Tão bonito ver as imagens de Praga em Literatura e Cultura... Obrigada pelo acesso ao blog, e mais que ao blog, ao conteúdo infradito do texto. Abraços.

Para A. de A., com A.:
Como Abel, procuro um terceiro Nome vindo dos sonhos, forma da prepalavra, raio de antevisão que habita a minha língua e forja espiral de estrelas na metáfora de céu que trago à boca...

[Mais preciso é saber não sabê-lo, aceitar que ele é fenda em palavra: e assim...apenas, sê-lo].