Górki por Nelson Mielnik
Ângela Calou é uma jovem escritora cearense; Eu tenho medo de Górki & outros contos é seu livro de estreia. A obra reúne pouco mais de duas dezenas de narrativas, que variam na extensão e na temática. Alguns dos contos são melhor acabados; outros mais se assemelham a exercícios ficcionais − o que não é um demérito. Ângela experimenta, arrisca-se, explora a linguagem com notável desenvoltura. No prefácio à obra, Tércia Montenegro, ela mesma contista, assegura: “Ângela Calou já encontrou seu estilo, neste livro de estreia”. Embora a afirmação me pareça algo temerária, sendo a autora ainda jovem, é fato que está muito próxima disso. Sua escrita tem ritmo, variação léxica e vigor estético. Ângela, sem dúvida, já nasce contista − não aspirante, como os tantos escritores que mais tarde renegam suas primeiras páginas.
Todavia, o que me parece mais importante é o fato de Eu tenho medo de Górki & outros contos denotar uma evidente independência. Ângela não faz concessão a modismos, afetações desnecessárias ou forçosos artifícios; pelo contrário: sua escrita é despojada − sobretudo, isenta de certo vício intelectualista comum nos jovens contistas de hoje. Não que não haja, em seus contos, referências culturais: já o título do livro evoca um dos mais importantes autores oitocentistas; Ângela cita Cézanne, Beethoven, Walter Benjamin em epígrafe. Essas citações, entretanto, respeitam a economia narrativa, não soando gratuitas ou pedantes. Para além disso, se os contos eventualmente resultam algo herméticos, isso parece menos atribuível à intenção estética do que à busca temática à qual Ângela corajosamente se lança − e que é, a meu ver, o ponto em que mais nitidamente se percebe o teor inaugural do livro.
Eu tenho medo de Górki & outros contos é uma obra auspiciosa − a abertura de um horizonte literário em que ainda há muito a ser construído. Ângela, contista de talento, arrisca investidas, tateia motivos, acerca-se de universos temáticos ainda não de todo definidos. Por vezes, parecem eclodir alguns temas recorrentes, possíveis indícios destas ideias fixas que obcecam os escritores: as perdas, as despedidas, os abandonos. Contudo, quem sabe por uma propensão filosófica, ela ocasionalmente conduz a narrativa para instâncias abstratas, quando poderia insuflar nas palavras a matéria vivida (o que, desnecessário dizer, nada tem a ver com a exploração de referências regionais: Lewis Carroll, de quem Ângela toma Alice por empréstimo, não se referiu concretamente a mundos imaginários?). Se, de fato, será esse o melhor caminho, apenas a escritora poderá decidir. Ângela Calou já abriu as portas de seu universo literário; cabe-lhe, agora, o desafio de − sem medo − sondar seus recantos.
(Publicado originalmente em http://clavecritica.wordpress.com/2012/04/09/escrita-sem-medo/, 09/04/2012)
8 comentários:
Ângela
adorei as renovações em teu blog! Está muito lindo, claro e objetivo.
Sinto um amadurecimento apropriado!
Deixo um enorme e caloroso abraço à você!
ps: ainda não li essas últimas postagens...
Calou só sabe o arremedo
De si: tão própria que o "Górki"
Também só de si extorque
A palavra. E o faz sem Medo.
Olá Calou!! Meu nome é Pedro Ernesto, sou amigo do Poeta de Meia Tigela, e gostaria de lhe agradecer pelo seu novo livro de contos. Lê-lo-ei (Leloei?..rsrs) com toda atenção!!
Se quiseres, eu lhe convido a visitar meus seguintes endereços poéticos:
http://almadesonetos.blogspot.com.br/
http://poetalmocreve.blogspot.com.br/
http://www.recantodasletras.com.br/autores/pedroegd
Um forte abraço!!
Pedro Ernesto.
Oi Calou!! Esqueci de dizer uma coisa: eu tenho uma colega minha que se chama Thaís Calou de Holanda e ela também é de Juazeiro do Norte. Ela é formada em arquitetura pela UFC. Talvez vcs sejam parentes e nem se conheçam..rsrs
Um forte abraço!!
Pedro Ernesto.
Até hoje guardo resquícios desses contos impregnados em minha pele, em minh alma...
Olá Angela, gostei de seu blog e desde já quero dar-lhe os parabéns, Sou Antonio Batalha portugues e gostava de lhe fazer um convite: Tenho um blog Peregrino e servo, e se desejar fazer parceria me deixava muito honrado em tê-la como minha amiga virtual, claro que vou retribuir. Obrigado e tudo de bom.
Sucesso mais que merecido!!! Um beijo, Angela!!
Ela não é aspirante como outros que depois renegam suas primeiras páginas? Coitada dela se nunca criar o juízo necessário para um dia abominar esses escritos mal feitos que qualquer um com um minimo de sensatez renega de início.
Postar um comentário