quinta-feira, 6 de novembro de 2014


(Acrílico s/t)



os olhos azuis da bondade
os verdes da traição
negros: sinceridade
castanhos: devassidão
se puxados ou não
puxam para si os meus próprios
ímã, rosário, ópio

sejam grandes, pequenos
firmes, desatentos
intrigantes ou amenos
olhos, é preciso olhar nos olhos
cerrados como se japoneses
saltados como se denunciados
de sobrolhos adornados
ou até mesmo: vazados
- branca retina tornada bruta...

olhos, é preciso despi-los
saber de sua luta
botão a botão
como se flores cuja surpresa
fosse o inseto pousando na mesa
ou o perfume que aquieta o coração
olhos: um pouco de coisa-em-si
mas sem poderes de camaleão

sejam cheiro de casa limpa
ou odor deletério de cripta
é preciso cheirar os olhos
- (com os olhos)

sejam unhas riscando a losa
ou os mimos de uma voz rouca
é preciso ouvir os olhos
- (com os olhos)

sejam banquete em Fontaineblue
ou magra avoante na brasa, assum
é preciso saber o gosto dos olhos
- (com as pupilas gustativas)

sejam a pele das macieiras
ou os espinhos das carnaubeiras
é preciso tocar os olhos
- (com os olhos)

sejam calmos tal Monalisa
ou assustados como em Guernica
é preciso olhar os olhos
- (com olhos abertos e sãos)

os olhos que passam
e nos olham por baixo
os olhos que Não.

2 comentários:

Ronnison disse...

Opa, a Calou voltou^^

Anônimo disse...

Além de o texto ser simplesmente encantador, eu gostei também bastante da pintura, então você poderia por favor dizer quem é o autor da obra.