Yudi

domingo, 15 de novembro de 2009

Nunca sei a medida exata das coisas. Por isso tanto silêncio, um dado que não se entrevê, fora dos limites da percepção e da intelecção, judicalmente imaterializável. Não sei dosar quando ir, quando ficar, quando sustentar o olhar sobre você ou quando escapar de seus olhos com medo, numa velocidade próxima à da luz. Não sei a hora das palavras, ponteiros para mais ou para menos sempre: quando o seu reverbero ao outro que se põe? Quando a clausura original da garganta? Vim sem talentos de medida, não sei medir, e por isso agir e decidir e escolher. Às vezes me assusta ficar sozinha comigo, com esse frio mais subjetivo que da estação, com essas luzes que parecem estrelas em um grau mais pobre, ou gliter sobre papéis coloridos, com essa minimariposa sobre meu braço direito como que a escutar as voltas de meu pensamento secretamente. Tenho preguiça de expulsá-la. Parece quieta, como se concordasse comigo. Será que dorme? E eu que não falo sua língua, nunca saberei de seus segredos pequeninos. Eu mesma digo às vezes em acessos de filosofia-de-botequim, que não há mais segredos, pois há que se ler nos gestos e paradas súbitas, nos Castelos e nas canções, nas bordas da pele e nos pequenos instantes de Verdade caídos dos corpos, muito, muito raramente. Sonho fácil. Canso fácil. Amo fácil. Riu difícil. Acordo difícil. Leio difícil. Há séculos não termino um livro, talvez Kafka me possibilite mais uma vez tal façanha. Das Schloss, o burocrático, o buRRocrático. O que sei é que é sempre assim, melhor mesmo não se arriscar, melhor mesmo não se atrever, melhor que não se tente o salto, pois na analítica desse esporte radical, não vejo outro que não a queda como implicação imediata – violenta, aterradora, como tomar água de coco à sombra de um pé de desvario. E talvez sobre esse Hegel das segundas e quartas-feiras, eu tenha apenas que concordar que todo fim está no começo, como as desórbitas do avesso.

(As desórbitas do avesso - Antonio Augusto Bueno)

9 comentários:

MaRio Rafael disse...

“Nunca sei a medida exata das coisas. Por isso tanto silêncio, um dado que não se entrevê, fora dos limites da percepção e da intelecção, judicalmente imaterializável. Não sei dosar quando ir, quando ficar, quando sustentar o olhar sobre você ou quando escapar de seus olhos com medo, numa velocidade próxima à da luz.”

Tenho me surpreendido e me reconhecido nesse blog, todas as vezes que o visito aos domingos a noite, talvez já por costume ou vicio, de uma forma mesmo incrível E hoje, ao ler tais palavras, reconheci em mim o porque de tanto silencio de ante de pessoas que merecem tantas palavras...

Ane disse...

colocou um fim para Antoine ontem e retirou o que escreveu, tu és pirada...e colocou esta bosta! Vai te tratar, o seu caso não tem cura!

angela disse...

"Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra."

Ao Rafael, um pouco de Caio Fernando.

ReNê disse...

Perfeita a frase do Caio, cai como uma luva. Não posso fazer nada mais do q reproduzir: "Todo fim está no começo, como as desórbitas do avesso."

angela disse...

(Ane me lembrou o descolorido cadáver de Antoine, que sempre volta,dono que é do segredo das ampulhetas...)

Mas por que haveria de se querer a cura?
Goles soberbos nessa demência, passos firmes nesse "jogo de som e fúria".

À Ane e seu modo doce:

“aplaudi, bebei, vivei, ilustres iniciados da Loucura!...”

ReNê disse...

Ane, ao desenvolver uma relação de cumplicidade observacional pelo nosso querido personagem sempre demonstra uma personalidade tão doce quanto uma colher de ácido, tão sensível quanto a estátua que vi a duas quadras de onde me encontro. A surpresa te perturba, o personagem tem vida própria, culpar a escritora é ferir o processo criativo.

angela disse...

Será que ela já assistiu Louca Obsessão??
meedoooo

hihohiohioihiohiohioh

Ezequiel disse...

eu até ia colocar um comentário,mas a cor da pagina ferra com minha visão.
sra. por favor me mande mail

angela disse...

\O/\O/\O/\O/

chocada: ele tah vivo!! e assim penso que tvz apenas como um certo desmemoriado amigo nosso tenha andado por aí com os olhos inflados da canalhice que lhe é própria..

cole no word seu morto
hihoihoihoiho
=*