Happy Days

quarta-feira, 22 de julho de 2009

a boa terra gira outra vez
enquanto um U de cabeça para baixo
é costurado à boca
(como em desenho animado japonês)
o ar resfriado e a mudez apenas
sem precedentes
falseadamente despretensão

permaneço
olho com mais força
cego a luz das coisas
faço-me coisa
a-significada
que por não ter significado
significa imediatamente

o líquido espesso da lata de vida-em-conserva
salpica-me o rosto,
se consigo abri-la.
e tento abri-la com dedos limpos
e sonhos rotos
e um rosto bobo expatriado
inadmissível à fiscalização de fronteira do “reino das posses”

se é difícil conseguir outro verso
deve-se atentar talvez, ao fato de que o poema acabou,
assim, sem que ao menos o tivéssemos percebido.


[mais bílis negra...that's the clue!...gravura de Albrecht Dürer, Melancolia (1471-1528)]

2 comentários:

Everardo de Oliveira disse...

"a-significada
que por não ter significado
significa imediatamente"


belissímo,sempre.


"Como escreve aquela ângela!"

Ângela Calou disse...

nocheinmal danke schön sr. vevas :)