quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Um dia, voltarás pela Rua do Cruzeiro acompanhada de tua sombra somente que, imóvel e calada, olhará como se a te julgar. Dos despojos dos despejos: a solidão dos teus passos — apenas a pouca velocidade seguindo a acompanhar. Uma senhora em sua porta talvez pergunte: vens de longe? Não tens medo de andar a essa hora? Teu sorriso responderá que é preciso voltar, não importa se longe e tarde ou se o mundo bichado de salteadores. - O mundo anda mesmo bichado de salteadores, mas eu cuido de guardar a minha alma sempre que ando pelo lado de cá. Um dia voltarás pela Rua do Cruzeiro, de finados um domingo, quem sabe. Então pensarás que também tu não receberás flores ou reza ou lembrança fast-food a estrito descarrego de consciência... Pensarás que, como os mortos cujos vivos que deles lembrariam já também mortos, esperarás nervosa pela visita de novembro, que não vai chegar. Um dia será a Rua do Cruzeiro a te atravessar. E tu, morada do nada, nem mesmo saberás.

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